sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Fireburn

https://fireburnhc.bandcamp.com/
De volta a velha escola do Punk-Hardcore, trago a vocês uma banda que tem surgido em meados de 2017, trazendo para nós todo o poder e revolta do hardcore contra tudo e todos, estou falando de Fireburn, o quarteto californiano consiste em Israel Joseph I (ex- Bad Brains ), Nick Townsend ( Deadbeat/Knife Fight ), Todd Jones ( Nails ) e Todd Youth ( Murphy's Law e mais uma tonelada). O grupo volta ao básico, mais uma vez olhando para os Bad Brains de inspiração, terminando até o pequeno EP com uma melodia reggae e um remix dessa melodia.

No entanto, o grupo troveja e grita para frente com o punk de 1981, quando um baixo prestes a cair do painel de fibra leva às guitarras em chamas e tambores de metralhadora de "Suspect". A poderosa declaração de abertura define o grupo e uma música punk flui a seguir como "Break It Down" (completo com solo fluido de guitarra da Juventude) e o mais furioso e caótico "Let This Be". 

A reviravolta do reggae ("Jah Jah Children") e o remix ("Jah Dub") ganharão as comparações do Bad Brain, mas eles estão presentes desde a primeira nota, é bom ver a banda ainda inspirando tanta devoção como eles são claramente lendas do gênero.

O pequeno EP é um bom primeiro esforço da banda e com esse tipo de junção pode haver muitos lançamentos excelentes ou isso pode ser uma coisa de uma vez. De qualquer maneira, vale a pena ouvir os dez minutos de música que Fireburn  oferece em Don't Stop The Youth se você é um fã de punk rock / hardcore metal da velha escola.

2017 - Don't Stop The Youth


2018 - Shine


Esse ano de 2018 foi a vez do mais novo EP auto-intitulado: Shine. São apenas 3 cantigas, sendo que, a última é uma faixa bônus. Sonzera do começo ao fim, ouçam!

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

1993 - In Utero

A fama do Nirvana alcançava altos níveis quando a necessidade de um novo disco de músicas inéditas se fazia presente. Na verdade, esta necessidade já era realidade há algum tempo, e por isso mesmo foi lançada a coletânea "Incesticide", em 1992, a fim de acalmar os fãs mais impacientes. Funcionou, mas não por muito tempo. Músicas inéditas do Nirvana pós-Nevermind eram esperadas, e mesmo que sobras de estúdios do início da carreira alegrasse colecionadores, a curiosidade de ver por quais caminhos a banda iria se enveredar era muito maior. Entretanto, por volta de 1993, o estado do vocalista - e agora ídolo - Kurt Cobain já não era dos melhores, agravado principalmente pela ultra-exposição causada pelo disco de "Smells Like teen Spirit".

Contradições e debates à parte, o sucesso incomodou não apenas a banda, mas principalmente Cobain. Avesso as conseqüências de ter vendido centenas de milhares de discos por todo o mundo, a idéia agora era fazer um disco que não desse continuidade a Nevermind, um disco sujo, que voltasse às origens. Não à toa Steve Albini foi chamado para produzir o então intitulado "I hate myself and I wanna die". Responsável pelo discos como "Surf Rosa", primeiro do Pixies, Albini produzira também Breeders, Tad e PJ Harvey. Conhecido por seu desapego a indústria fonográfica, ele seria o produtor que não faria a banda gravar um novo Nevermind e, principalmente, um novo "Smells like teen Spirit". Ou seja, exatamente o que a banda - principalmente Kurt - queria.

Apesar dos ataques de depressão, crises de choro e crises criativas de Cobain, a gravação de In Utero foi feita em pouco mais de dez dias. Seco, direto e sincero, In Utero é quase como um desabafo, e não precisa ser nenhum gênio para prever que a Geffen - gravadora da banda - não iria gostar do resultado de um trabalho como este. Após intensas discussões, o primeiro passo foi convencer a banda a mudar o título do álbum. "I hate myself and I wanna die" era um título muito forte, que causaria um certo mal estar no mercado. Convencido não só pelos executivos, mas também pelos companheiros de banda, Cobain cedeu e intitulou o disco de "In Utero", deixando o humor ironico do antigo título de lado. O segundo, e mais complicado passo, foi encontrar em meio aquelas canções um ou duas que poderiam ser os singles que levariam o álbum. Dentre todas, "Heart-Sharped Box" e "All Apologies" foram as escolhidas, e receberam um toque de Scott Litt, produtor do R.E.M, para torná-las mais acessíveis - entende-se aqui que as músicas levaram o chamado "banho de mesa", processo pela qual ela é "limpa" das sujeiras propositalmente deixadas pela banda durante sua gravação.

Em setembro de 1993 "In Utero" chegou às lojas, não vendendo tanto como Nevermind, mas alcançando ao topo das paradas muito mais rápido, afinal, o lançamento deste disco era mais do que esperado. Os pouco mais de quarenta minutos de crueza não agradaram muito aos que tinham o disco anterior como base de comparação. Além disso, muitas lojas proibiram a venda do disco devido ao título de uma das músicas ser "Rape me" ("Estupre-me"), só liberando as prateleiras quando o título foi trocado por "Waif me". Cheio de contravenções, ironias e sinceridades, "In Utero" é recheado, principalmente, de boas canções. Fugindo da fórmula que consagrou Nevermind, a auto-sabotagem de Cobain foi algo que a banda teve que lutar de tempos em tempos durante as gravações. As canções poderiam ser cruas ou diretas, mas não precisavam ser ruins, ou melhor, propositalmente ruins. Há alguns erros intencionais, como em "Frances Farmer will have her revange on Seatlle", onde uma nota escorregada serve para mostrar que somos tão humanos como Frances Farmer (atriz que foi internada num hospício), logo, suscetíveis a erros como ela, mas nada que possa comprometer o disco. Muito pelo contrário, diga-se de passagem.

Logo na abertura, a dissonância da primeira nota diz 'o disco é isso, esqueça o Nirvana verso-refrão-verso de Nevermind'. "Serve the Servents" é uma das canções mais autobiográficas do disco, pois versos como "I tried har to have a father but instead I had a dad" deixam transparecer a relação conflituosa de Kurt com Don Cobain, seu pai. Ainda no âmbito familiar, o refrão desta mesma música diz que "that legendary divorce is such a bore", retratando a influência do divórcio dos pais na vida do músico. Seguindo com o peso e as microfonias, há ainda "Frances Farmer will..." - que, como dito, é uma homenagem a Frances Farmer, atriz de Seatlle que alcançou certa fama em hollywood na década de 30, mas após isso passou por diversos hospitais psiquiátricos, se tornando uma espécie da obsessão de Kurt - "Very Ape", "Milk it" e "Radio Friendly Unit Shifter" - todas completamente dissonantes e estranhas numa primeira audição, teriam espaço garantindo no primeiro trabalho da banda -, além de "Tourette's" - música escrita e composta com base numa doença conhecida como "Síndrome de Tourrete", na qual seus portadores incontrolavelmente distribuem palavrões e resmungos.

Não menos pesadas, mas possuidoras de harmonias mais comuns, estão "Scentless Apprendice" - baseada no romance de Patrick Süskind chamado "O Perfume". A música se originou de uma linha de bateria composta por Dave Grohl, que, por sinal, é a mesma da introdução da música -, os singles de trabalho "Heart-Sharped Box" e "All Apologies", a balada "Dumb" - uma das letras mais comoventes já escrita por Kurt ao longo de sua carreira -, e "Pennyroyal Tea", talvez uma das músicas mais pesadas do disco, já que "pennyroyal" é um chá abortivo, e a letra - assim como o restante do álbum, inclusive seu título - pode ser encarada como uma necessidade de Kurt a voltar a ser bebê e evitar todo o sofrimento pelo qual vinha passando. O chá em questão o traria morto ao mundo. Além destas, há a controversa "Rape me", na qual a introdução propositalmente remete a "Smells like...", a fim de chamar a atenção do ouvinte à letra, que, conforme ressaltado pela banda no vídeo "Live, tonight, sold out", é anti-estupro.

Uma curiosidade do disco é a faixa fantasma (crediatada na edição nacional) "Gallons Of Rubbing Alcohol Flow Through The Strip", gravada nos estúdios da BMG Ariola, no Rio de Janeiro, quando da passagem da banda aqui no Brasil para o Hollywood Rock, em 1993. Outra curiosidade é que foi neste disco a primeira vez que Kurt dividiu a composição das músicas. Na verdade, foi apenas uma música, "Scentless Apprendice", creditada a Krist Novoselic e Dave Grohl, além de Kurt Cobain. Este fato demonstrava que a crise criativa de Cobain estava começando a se acentuar, e não à toa ele já começava a remexer em velhos rasunhos atrás de idéias. Ou seja, a famosa passagem de sua carta de suicício ("I haven't felt the excitement of listening to as well as creating music along with reading and writing for too many years now.") começava aqui.

O ponto é que, além de todas as controvérsias que rondam não apenas este disco, mas aquase a discografia inteira, "In Utero" é um passo, o penúltimo da carreira de uma das bandas que marcaram a música na década de noventa. E talvez a primeira versão da carta de despedida de Kurt Cobain. Resenha por: Whiplash.

Outras resenhas aqui:







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1993 - In Utero


quarta-feira, 5 de setembro de 2018

One Day As A Lion


One Day as a Lion é um power duo que mistura elementos de rock e rap formado em 2008 por Zack de la Rocha, vocalista do Rage Against the Machine e Jon Theodore, ex-baterista do The Mars Volta e atual Queens of The Stone Age. Lançaram seu único EP em julho de 2008 pela Anti Records.

2008 - One Day As A Lion (EP)


Wanda Jackson


Que nome lhe vem à cabeça quando você ouve o surrado termo "rei do rock’n’roll"? Provavelmente Elvis Presley seja o mais lembrado, mas muitos citarão Chuck Berry, o criador dos maiores clássicos do gênero em seus primórdios, ou Jerry Lee Lewis, ou até mesmo Little Richard.

Elvis foi quem mais obteve fama e notoriedade, por ser um grande cantor e por abusar de seu carisma e sex appeal. Chuck Berry não teve o mesmo sucesso, ao menos não na mesma proporção, principalmente por ser negro em uma época em que a segregação racial era enorme. Havia "música de negros" e "música de brancos", rádios só para negros e rádios para brancos. Chuck Berry e Jerry Lee Lewis brigavam como crianças colegiais pelo título, quase chegando as vias de fato em várias ocasiões, por cada um reivindicar para si a alcunha de "rei".

O nome do monarca está longe de ser uma unanimidade, mas o da rainha está muito bem definido. Wanda Jackson é a rainha do rock’n’roll e do rockabilly há praticamente meio século. Nascida em 1937, Wanda iniciou sua carreira ainda na adolescência, quando chamou a atenção do cantor country Hank Thompson, que a incentivou a gravar com a sua banda, os Brazos Valley Boys. Em 1956, Wanda começou a namorar com o astro Elvis Presley, que a incentivou a deixar o country de lado e a gravar rock’n’roll e rockabilly.

Wanda abandonou as camisas xadrez, botas e chapéu country e adotou uma visual mais sexy, com saias plissadas costuradas por sua mãe. Uma mulher tocando guitarra e liderando uma banda de rock chocou os conservadores no final dos anos cinquenta. Seus primeiros discos, Wanda Jackson (1958), Rockin’ with Wanda (1960) e There’s a Party Goin’ On (1961) lhe trouxeram vários hits, como "Let’s Have a Party", "Right or Wrong” e "Fujiyama Mama", sobre uma mulher que se compara ao vulcão japonês quando entra em erupção. Além de compor grande parte de seu repertório, Wanda Jackson também gravou vários covers sensacionais de Chuck Berry, Little Richard, Carl Perkins e Charlie Rich.

O sucesso lhe rendeu o título de Rainha do Rockabilly, gênero que mistura rock’n’roll com hillbilly, uma mistura acelerada de country, blues, folk e swing que estava surgindo e que Wanda ajudou a solidificar.

Nos anos sessenta Wanda voltou-se novamente para a country music, gravando rock’n’roll ocasionalmente. Convertida ao cristianismo, passou a gravar álbuns gospel, alternando baladas country e música religiosa. Manteve a popularidade durante a década, até ser dispensada em 1973 pela gravadora Capitol, justamente por insistir em lançar álbuns religiosos. No ostracismo, continuou lançando discos e fazendo shows, até voltar aos poucos a gravar rock, como em seu álbum de 1984, Rock’n’Roll Away Your Blues.

Em 2000 foi lançada a ótima coletânea Queen of Rockabilly, com trinta faixas que englobam o seu período mais fértil. O resultado é um apanhado de maravilhosos petardos do rock’n’roll que demonstram todo o poder da soberana do rock. Seus últimos registros em estúdio foram os discos Heart Trouble, de 2003, que traz a participação de Elvis Costello e da banda The Cramps; e I Remember Elvis, um tributo ao antigo amigo e namorado.

Em 2009, Wanda Jackson foi introduzida ao Rock’n’Roll Hall of Fame em sua 24° edição, na categoria “Primeiras Influências”. Como o Metallica foi introduzido nesta mesma noite, a mídia que cobriu o evento quase nem reparou nela, mas Wanda voltou a lotar casas de shows e viu, impressionada, seu público aumentar consideravelmente no último ano. O recrudescimento de sua popularidade após o Hall of Fame já lhe rendeu uma turnê de duas semanas pela Europa, shows no Japão e uma apresentação no beneficente Woody Guthrie Folk Festival.

2000 - Queen Of Rockabilly


domingo, 2 de setembro de 2018

1992 - Incesticide

Incesticide foi uma compilação lançada em 1992 para acalmar os ânimos dos fãs que ansiavam por novidades do Nirvana, após o estouro do Nevermind. Já que o álbum com inéditas (In Utero) iria demorar mais para ser finalizado, a jogada foi garimpar raridades e lados b de singles gravados entre 1988 e 1991. O resultado é um álbum um tanto diferente. Tem músicas que trazem a sonoridade característica que consagrou a banda no álbum anterior, porém há músicas com uma sonoridade bem diferente, o que também serve para mostrar ao público que o Nirvana é uma banda de múltiplas influências e aberta à diversidade. A capa é uma pintura de Kurt, que foi creditada como Kurdt Kobain. (Veja mais aqui).
1992 - Incesticide