quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

1987 - Strangeways, Here We Come

Infelizmente, vamos com o último disco de estúdio de THE SMITHS!

Último registro em estúdio antes do dissolvimento da banda, Strangeways, Here We Come continua de maneira coesa com o que o grupo havia aprimorado um ano antes durante o lançamento de The Queen Is Dead (1986). Ainda que recheado por composições essencialmente sombrias e encaixes instrumentais que passeavam pela música Folk, Pós-Punk e demais referências musicais da época, com o quarto disco os Smiths pareciam cada vez mais interessados em lidar com o pop. 

Registro mais comercial de toda a carreira da banda, o álbum tem suas marcas bem estabelecidas não apenas dentro do universo do grupo inglês, mas em outros registros mundo afora, entre eles If You’re Feeling Sinister (Belle and Sebastian) e Boxes (The National). Por se afastar parcialmente da proposta firmada no trabalho que o precede, SHWC possibilita ao quarteto inglês a chance de experimentar instrumentalmente. 

Dessa forma, Johnny Marr adere os exageros da década de 1980 de forma cuidadosa em Paint A Vulgar Picture, sobrecarrega de forma assertiva Death Of A Disco Dancer com sintetizadores, e preenche Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me com arranjos de cordas e climatizações dolorosas capazes de transportar Morrissey para o grupo dos grandes cantores da década de 1960. Ainda hoje definida como a obra mais “exótica” da banda, o álbum – ilustrado pela foto de Richard Davalos – parece encerrar a carreira do grupo, bem como toda a produção musical da década de 1980.


Cinnamon Tapes


Sem pressa, como ondas tímidas banhando os pés em uma manhã tranquila à beira-mar, Nabia (2017, Balaclava Records), primeiro álbum de estúdio do Cinnamon Tapes, ganha forma e cresce lentamente. De essência intimista, produto das confissões, medos e inquietações da cantora e compositora Susan Souza, o registro de temática marítima chega até o público em pequenas doses, flutuando em meio a arranjos tecidos com extrema delicadeza pela musicista paulistana. 

Nascido do parcial isolamento entre Souza e o veterano Steve Shelley, ex-integrante da banda nova-iorquina Sonic Youth e colaborador esporádico em projetos como Sun Kil Moon, Nabia, como o próprio título indica, nasce como um convite a visitar a mente e sentimentos da cantora. Trata-se de uma personagem mística criada para representar o eu lírico de Souza. Representação poética que sutilmente amarra cada uma das nove composições produzidas para o curto registro. “Após gravar a primeira parte, entendi que minhas composições sempre traziam algo que as conectava. Elas remetiam ao universo místico, com simbologias sobre o feminino, ao mesmo tempo em que me ajudavam a iluminar o lado menos doce da minha personalidade“, explicou Souza em entrevista ao site da Red Bull. 

O resultado está na construção de um álbum marcado pelo forte sensibilidade. Arranjos e vozes essencialmente brandas, esquivas de possíveis excessos. Entre versos bilíngues e um timbre que instantaneamente remete ao trabalho de Cat Power, Souza convida o ouvinte a explorar um ambiente conceitualmente isolado, acolhedor e melancólico na mesma proporção. Um bom exemplo disso está na já conhecida Sol, segunda faixa do disco. Entre arranjos semi-acústicos, A cantora pinta com as palavras um cenário perfumado pelo brisa do mar, conchas e a lenta separação de dois indivíduos, conceito que se repete em diversas faixas do trabalho. 

Em uma medida de tempo própria, Nabia segue de forma econômica até o último instante, esmiuçando guitarras e fragmentos de vozes marcados de forma explícita pelos detalhes. Instantes de profunda melancolia, como nas guitarras e batidas arrastadas de Sacred Waves, música que lembra a boa fase de grupos como Galaxie 500, ou mesmo canções levemente ensolaradas, percepção reforçada durante a produção da crescente Cinnamon Sea e, principalmente, na melódica Ventre. Completo pela presença dos músicos Emil Amos (Holy Sons, Grails, Om) e Paulo Kishimoto (Forgotten Boys, Riviera Gaz, Pitty), Nabia ainda conta com a masterização assinada pela engenheira californiana April Golden (Sharon Jones, Downtown Boys). Um time seleto de instrumentistas convidados a completar as pequenas lacunas de Souza, interferência pontuais que sutilmente contribuem para o maior fortalecimento da obra e, consequentemente, da personagem criada por Cinnamon Tapes.

sábado, 13 de janeiro de 2018

Cora


Com sonoridade que transita entre dream pop e rock alternativo com ares psicodélicos e etéreos, o EP narra uma época e todo um repertório de sentimentos e percepções que já passaram faz um tempo, como explicam as fundadoras da banda Kaíla Pelisser e Katherine Finn Zander: “tem coisas muito importantes que aprendemos no processo de gravar, que levou 4 anos, por isso toda essa coisa de “Não vai ter Cora!”. O disco é deliberadamente uma entrega pras pessoas das histórias que a banda viveu em todo esse tempo, são cinco músicas que ajudaram a superar situações e traumas.


2017 - Não Vai Ter Cora



quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

1986 - The Queen Is Dead

A dor habita cada instante do terceiro registro em estúdio do quarteto inglês. Menos “político” e raivoso que o antecessor Meat Is Murder (1985), The Queen Is Dead parece concentrar tudo o que o grupo havia testado desde o debut em 1984: um ambiente à meia luz que cresce de acordo com as melancolias e confissões amargas de Morrissey. Se por um lado os vocais sombrios e a sonoridade abafada construída por Johnny Marr servserviram para dar vida a clássicos como There Is A Light That Never Goes Out e I Know It’s Over, por outro lado o uso exato de guitarras pop e o encaixe brando dos temas possibilitaram o crescimento de novas tendências dentro do registro. 

Caso de The Boy With The Thorn In His Side (uma das composições mais copiadas no rock indie da década de 1990) e a inteligente Frankly Mr Shankly, uma crítica bem humorada ao dono da Rough Trade (gravadora da banda), Geoff Travis. Longe dos exageros e cores neon que predominavam na música da época, com o terceiro álbum os Smiths assumem um direcionamento ainda mais sóbrio do que o testado nos primeiros discos. Cada faixa parece abastecer o que será utilizado na composição seguinte, resultando em um composto musical de forte proximidade, porém, de nítidas especificidades e marcas sonoras. 

Enquanto Bigmouth Strikes Again (com uma letra que ataca a imprensa britânica) lida com um peso maior nas guitarras, a bem humorada Vicar In A Tutu reforça a incorporação da música de raíz, preferência posteriormente aprimorada em  Strangeways, Here We Come (1987). Tão atual quanto na época do lançamento, The Queen is Dead é ainda hoje a maior obra já lançada pelo grupo, além de ser uma dos registros mais influentes de toda a história da música. Sombrio e “preditivo” – vide a teoria que Morrissey teria anunciado a morte da Princesa Diana anos antes -, o disco marca o ápice da produção inglesa nos anos 1980, sendo o princípio da invasão britânica que tomaria conta do mundo logo no início da década seguinte.


quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Frieza


Vindos de Goiânia, o Frieza estréia com um debut surpreendente. Misturando Black Metal, Sludge e Post Metal, o grupo cria uma sonoridade bem única pra nova leva de metal lento e arrastado na cena nacional. Com influências como Darkthrone ,Neurosis, Mastodon e Dystopia. Imenso, denso e sombrio, esse disco é uma das surpresas que surgiram em 2017.



2016 - Marinho

Marinho é o nome do primeiro EP do seu projeto solo Alcantara, no qual Motta está acompanhado do violão e alguns convidados especiais, como Rodrigo Dido (guitarrista da Blackjaw) e Felipe Martins (guitarrista da Sokera e vocalista do The Last Machine). Ouçam esse discaço.


Alcantara

O santista Nathan Motta é figura presente em tudo que é show do cenário alternativo da Baixada Santista. Normalmente, empunhando uma câmera fotográfica, ele registra várias bandas da região. Mas agora, aos 21 anos, ele decidiu se lançar no palco também. Mais uma vez. Nenhuma novidade para quem ganhou a sua primeira guitarra aos 13 anos. 

Marinho é o nome do primeiro EP do seu projeto solo Alcantara, no qual Motta está acompanhado do violão e alguns convidados especiais, como Rodrigo Dido (guitarrista da Blackjaw) e Felipe Martins (guitarrista da Sokera e vocalista do The Last Machine). “Já toquei com banda de escola, louvor de igreja, ensaios com a banda dos meus vizinhos. Nos últimos anos, tive projetos com bandas com pegadas de punk rock, hardcore e até metal core, mas acabaram nem indo para frente devido à falta de tempo da minha parte e dos outros integrantes”. 

Antes do Alcantara, o guitarrista ainda foi baixista na banda de hardcore Fuerza, em 2013. Lançou um EP e um CD antes de entrar em hiato. “Como meus amigos andam ocupados com os trabalhos, resolvi fazer um projeto solo mesmo, de voz e violão, que facilita em partes, por exemplo, não ter que pagar ensaios em estúdios e nem depender dos outros membros”. Influenciado por Smiths, Superheaven, Silverchair e Jack White, Motta prefere fazer shows intimistas em locais menores e também em feiras veganas. “Minhas letras abordam assuntos sobre meus pensamentos contra preconceitos como racismo, xenofobia, homofobia, contra a violência gratuita, sobre respeito ao próximo, sobre fazer coisas por amor e não por interesse financeiro e fama”.

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

1985 - Meat is Murder

Pra iniciar 2018 naquela vibe, vamos com o segundo disco de estúdio de The Smiths:

Depois de um número impressionante de shows no circuito independente e vários singles lançados, os Smiths pareciam finalmente ter superado sua inexperiência inicial e isso se refletiu em Meat is Murder, segundo disco lançado em fevereiro de 1985. Mostrando uma maior criatividade musical e trabalhando com temáticas mais politizadas do que na estreia – há desde críticas à monarquia inglesa em Nowhere fast até canções em prol dos direitos dos animais como a faixa título -, o disco apresenta maior ecletismo musical da banda, experimentando novas sonoridades e estruturas em suas canções. Foi também o momento no qual a banda passou a soar mais coletiva, apresentando performances inspiradas de cada um de seus integrantes. 

O disco abre com a poderosa The Headmaster ritual segundo o próprio Marr, uma das faixas que a banda mais levou tempo para finalizar. Aparecem referências de Rockabilly em Rusholme Ruffians além do rock enérgico de What She said com um bom desempenho do baterista Mike Joyce. Há uma levada de funk na contagiante Barbarism Begins at Home na qual o baixista Andy Rourke é responsável por um dos grandes momentos do disco. That joke isn’t funny Anymore uma das mais belas canções já gravadas pelo grupo apresenta diversas camadas sonoras e guitarras sobrepostas à violões criando uma verdadeira parede sonora. A produção da faixa parece algo à frente de seu tempo, e sem dúvida, inspirou uma verdadeira escola de outras bandas que viriam nos anos seguintes.