sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

1988 - Viva Hate

Seis meses após o fim dos Smiths, Morrissey estreava solo com um álbum que rivalizava em qualidade com seus melhores momentos ao lado da ex-banda. Produzido por Stephen Street (que assina todas as canções em parceria com o cantor além de tocar guitarra e baixo), arranjado por Vini Reilly, do Durutti Column (que toca guitarra e teclados) e contando ainda com um sexteto de cordas, “Viva Hate” alcançou o número 1 da parada britânica e o 48 da Billboard (melhor posição do que qualquer disco dos Smiths – futuramente ele alcançara o número 11) embalado por dois hits pungentes: “Suedehead” e “Everyday Is Like Sunday”. 

Da abertura noisy e forte de “Alsatian Cousin” passando pela derrocada de um ator infantil em “Little Man, What Now?” a canções que fariam parte do sexto disco dos Smiths como a crítica “Bengali in Platforms” (“Ele quer adotar sua cultura, e ser seu amigo para sempre”), “Viva Hate” deixa a raiva escorrer pelo canto da boca enquanto se apoia em cordas (“Angel, Angel, Down We Go Together”), namora os Smiths (“The Ordinary Boys”, “Dial-A-Cliché”) e o barulho (“I Don’t Mind If You Forget Me”). 

“Margaret on the Guillotine”, em que Morrissey sonhava o dia em que a Primeira Ministra iria morrer, causou polêmica. “Viva Hate” foi relançando em 1997 com nova capa e oito faixas bônus, entre elas as excelentes “Let the Right One Slip In” (“Deixe os velhos sonhos morrerem / Deixe as pessoas erradas irem embora”, canta Morrissey sobre uma base potente de guitarras) e “Pashernate Love” (as duas produzidas por Mick Ronson), uma boa parceria com Andy Rourke, ex-baixista dos Smiths (“Girl Least Likely To”) e a primeira canção de Morrissey com Boz Boorer, “I’d Love To” (produzida por Steve Lillywhite), que seguirá como seu braço direito até os dias atuais.


Morrissey

Biografia:
Carreira 


Steven Patrick Morrissey mais conhecido por Morrissey, (Davyhulme, 22 de maio de 1959), é um cantor e compositor inglês, é o ex-vocalista e letrista da banda de rock inglesa The Smiths, tendo co-composto todas as músicas com o guitarrista, Johnny Marr. Ficou conhecido por ser o vocalista da banda inglesa The Smiths. Quando a banda terminou em 1987, Morrissey desenvolveu uma carreira solo bem sucedida e é um dos poucos artistas a ter músicas no Top 10 de Vendas de Discos do Reino Unido em três décadas diferentes. 


Seu primeiro disco solo, Viva Hate foi lançado em março de 1988, seis meses após a separação dos Smiths. Seu parceiro musical neste disco foi o produtor de sua ex-banda, Stephen Street, e teve a participação do guitarrista Vini Reilly, do Durutti Column. As músicas "Suedehead" e "Everyday is like Sunday" (seus dois primeiros singles na carreira solo) fizeram bastante sucesso. Depois de alguns singles como "The Last of the Famous International Playboy", "Interesting Drug", "November Spawned a monster", Morrissey lançou sua primeira coletânea de singles e b sides, Bona Drag, em 1990. 



Em 1991, com um novo parceiro, Mark E. Nevin, do Fairground Attraction, Morrissey lança Kill Uncle. Morrissey então inicia uma parceria duradoura com os guitarristas Alain Whyte e Boz Boorer, e lançaria seus melhores trabalhos: Your Arsenal (1992), produzido pelo ex-guitarrista de David Bowie, Mick Ronson, e Vauxhall and I em 1994. Ele gravou em 1994 um single não-álbum "Interlude" com uma de suas cantoras favoritas Siouxsie Sioux de Siouxsie And The Banshees. "Interlude" foi publicado sob o banner Morrissey & Siouxsie. Em 1995 lança Southpaw Grammar e em 1997 Maladjusted. 

Morrissey fica um período sem gravadora, mas continua excursionando. Em 2000 fez quatro shows no Brasil. Em 2004 assina com a gravadora Sanctuary Records e lança You Are the Quarry, produzido por Jerry Finn, com grande sucesso de crítica e público. Em 2006 lança Ringleader of the Tormentors, produzido por Tony Visconti, e inicia novas parcerias com o guitarrista Jesse Tobias. 

Em 16 de Dezembro de 2006, no concurso televisivo inglês Britain's Greatest Living Icon, "O Maior Ícone Britânico Vivo" (numa escolha realizada por meio de votos do público em geral). Morrissey classificou-se em segundo lugar apenas atrás de Sir David Attenborough, ficando à frente de nomes importantes, como Paul McCartney, entre outros. 

Em 2009, Morrissey lança mais um disco de músicas originais a que chamou de Years of Refusal. Os concertos de Morrissey ficaram célebres devido ao número incrível de pessoas que constantemente invadiam o palco para poderem tocar no seu herói. Várias vezes os seus shows tiveram que ser interrompidos por causa da quantidade de invasores presentes no palco que tentavam agarrar o cantor. 

Em 17 de outubro de 2013, a autobiografia de Morrissey, intitulado “Autobiografia”, foi publicada. O lançamento do livro causou polêmica, porque foi publicado pela editora Penguin Classics, que até então só publicava clássicos da literatura de autores consagrados. O livro entrou na lista dos mais vendidos do Reino Unido em número um, com cerca de 35.000 cópias apenas na primeira semana. 

Em 10 de novembro de 2017, Los Angeles declarou a data como Morrissey Day, reconhecendo a importância do cantor que há muitos anos vive na cidade. Morrissey também inaugurou uma loja pop-up em 8250 Melrose Ave em Los Angeles para celebrar o novo álbum Low in High School entre os dias 17 e 19 de novembro deste mesmo ano. A loja contou com diversos itens como roupas, discos, canecas e com as versões coloridas do novo álbum. 

Vida pessoal: 

É adepto do veganismo. Durante o começo da carreira nos Smiths, ele dizia em entrevistas que era celibatário. Johnny Marr declarou em uma entrevista 1984 que "Morrissey não participa de sexo no momento e não o fez por um tempo, ele teve um monte de namoradas no passado e muito poucos amigos homens." Em Setembro de 2010, o cantor fez uma declaração polémica no jornal britânico The Guardian, chamando os chineses de sub-espécie devido à maneira como tratam os animais, privando-os de qualquer direito ou dignidade. 


Critica a Família Real Britânica frequentemente, além de já ter disparado contra PJ Harvey, Bryan Ferry e o Tony Blair. Morrissey anunciou no dia 05 de junho de 2012, que planejaria se aposentar em 2014, quando completaria 55 anos. Segundo o site da revista The Hollywood Reporter, Moz -- como é chamado por seus fãs -- afirma ter envelhecido muito rapidamente nos últimos anos. Em sua autobiografia, Morrissey afirmou ter tido relacionamento com um fotógrafo, revelando sua bissexualidade.



1984 - The Smiths


História do disco

Depois do fim do Nosebleeds, uma das muitas bandas punk que surgiram nos anos 1970, Steven Patrick Morrissey estava com várias letras de músicas prontas, mas não tinha mais um grupo para ser o vocalista. Então, um dia, aconteceu o encontro que ajudou a mudar a cara dos anos 1980. Morrissey conheceu John Martin Maher, um conhecido guitarrista da cena de Manchester que circulava no meio desde os 13 anos.

Juntos, a dupla com ajuda do baterista Simon Wolstencroft, eles gravaram algumas demos, mas, em 1982, Morrissey convidou Mike Joyce para ser o baterista oficial do grupo. Nisso, Dale Hibbert já estava como baixista e cedia o estúdio caseiro que tinha para o quarteto gravar. No período em que ficaram juntos, Hibbert não agradou Marr, que alegou falta de personalidade para não mantê-lo. Ele foi substituído por Andy Rouke. Pronto, a formação original dos Smiths estava pronta. Aliás, o nome era uma provocação aos nomes de bandas synthpop e pós-punk surgidas entre o final dos anos 1970 e início dos anos 1980.

Não demorou muito para chamar atenção de uma gravadora e a banda fechou com a Rough Trade para lançar o primeiro single, "Hand in Glove", em maio de 1983. Apresentado pelo DJ da BBC John Peel, a faixa não chegou aos lugares mais altos das paradas, mas "This Charming Man" e "What Difference Does It Make?", as canções posteriores, conseguiram posições melhores e chamaram atenção da mídia para o talentoso grupo.

Mas um pouco antes disso, eles tiveram que gravar o primeiro álbum de estúdio. Claro, por pura estratégia, dar o nome da banda ao álbum é uma boa maneira de chamar atenção. Chefe da Rough Trade, Geoff Travis sugeriu que Troy Tate fosse o produtor de The Smiths. Contrato assinado, eles trabalharam durante um mês nas canções que entrariam no trabalho.

Porém nem tudo correu as mil maravilhas, e Travis estava muito insatisfeito com o trabalho de Tate como produtor. Sentindo que o trabalho não renderia o esperado, discretamente, Travis sugeriu a regravação do material com John Porter, conhecido produtor, como uma espécie de observador/olheiro/ajudante da banda. Morrissey aceitou de imediato, mas Marr teve mais trabalho para aceitar. Mesmo relutante, o guitarrista topou mudar o viés do álbum.

Com uma turnê em vias de acontece, as novas gravações aconteceram no espaço entre um show e outro e foram finalizadas apenas em novembro de 1983. Mesmo não achando o disco excelente, a banda acabou sendo forçado a lançá-lo do jeito que estava. Segundo o cantor, “pelo custo de seis mil libras, o LP tinha que ser lançado de um jeito ou de outro”.

Já fazendo enorme sucesso no Reino Unido, The Smiths bateu no número dois das paradas na semana de seu lançamento. A capa, uma das mais icônicas do rock, tem Joe Dallesandro em um desenho feito por Andy Warhol e foi inteiramente pensada por Morrissey. O legado desse álbum não está na quantidade de vendas, mas nas pessoas que ouviram suas músicas e tiveram seus corações tocados. Não é de graça que, 30 anos depois de seu lançamento, ainda seja um LP cultuado pela geração que está batendo na casa dos 40 anos neste século 21. O Smiths fez muito mais por eles nos anos 1980 do que qualquer adulto.

Resenha de The Smiths

Logo no início de "Reel Around the Fountain", é possível detectar o uso da bateria eletrônica com efeitos. Outra facilmente perceptível nas letras de Morrissey é o tom poético delas com uma tendência ao romantismo adolescente. Se formos pensar bem, é algo normal. Ele só tinha 25 anos quando gravou o primeiro disco dos Smiths, e as letras são reflexos de sua vida e de determinados momentos. É assim, autobiográfico, que os Smiths começaram sua trajetória na música. Uma letra que reflete o momento de crise que a Inglaterra viveu nos anos 1980 é "You've Got Everything Now" ao falar sobre desemprego e momentos de incertezas misturados com sentimentos fortes por outra pessoa.

Uma coisa que chama muito atenção nos Smiths é a capacidade melódica da banda. Letra a parte, o trio formado por Johnny Marr, Andy Rouke e Mike Joyce consegue dar ainda mais peso e envolvimento do ouvinte nas músicas. A chamada ‘cozinha’ musical é precisa. Claro que não poderia faltar uma canção reclamando do amor não correspondido, com "Miserable Lie" cumprindo muito bem esse papel, assim como "Pretty Girls Make Graves", que trabalha bem o uso das metáforas e do jogo de palavras. Aqui, vemos uma música em que não há idas e vindas, tampouco há refrão. Ela é corrida e termina com uma boa parte instrumental. Fechando o lado A do LP, "The Hand That Rocks the Cradle" é outra que apela ao ar poético-romântico de Morrissey.

"Still Ill" abre o lado B e mostra a vertente mais pop do grupo, servindo de parâmetro para outros grupos que vieram no futuro. Primeiro single dos Smiths a entrar no mercado, "Hand in Glove" só foi bem na parada indie, não fazendo nem cócegas na parada pop. Falando sobre a solidão completa do ser humano, a faixa foi uma das muitas que foram refeitas com a nova produção, ganhando outra cara – uma cara mais Smiths, diga-se.

O riff de "What Difference Does It Make?" mostra como Marr já tinha um potencial enorme para ser um dos grandes guitarristas de sua época. O refrão So, what difference does it make?/ So, what difference does it make?/ It makes none/ But now you have gone/ And you must be looking/ Very old tonight é cantado com todos os floreios que deixaram Morrissey conhecido pelo mundo. É outra faixa tipicamente Smiths. Mais uma vez, Morrissey conquista o ouvinte com sua poesia em "I Don't Owe You Anything", uma faixa para ser ouvida sozinho enquanto pensa na pessoa amada.


Por fim, inspirada no famoso Moors murders ocorrido em Manchester antes de os membros da banda nascerem, "Suffer Little Children" quase não apareceu nos relançamentos seguintes. A família dos envolvidos nos assassinatos chegou a entrar na justiça para tirar a canção de circulação, mas a banda conseguiu convencê-los das boas intenções ao lançar a letra – Moz até ficou amigo da mãe das vítimas – e tudo ficou esclarecido.

Os Smiths, logo nesse primeiro disco, mostraram ao mundo que a Inglaterra é um verdadeiro berço de novidades musicais. E Manchester também provaria ao mundo que, assim como Liverpool, também é um ótimo lugar para o nascimento de bandas de sucesso.
Ficha técnica:

Tracklist*:

Lado A:

1 - "Reel Around the Fountain"
2 - "You've Got Everything Now"
3 - "Miserable Lie"
4 - "Pretty Girls Make Graves"
5 - "The Hand That Rocks the Cradle"

Lado B:

6 - "Still Ill"
7 - "Hand in Glove"
8 - "What Difference Does It Make?"
9 - "I Don't Owe You Anything"
10 - "Suffer Little Children"

Todas as canções foram escritas por Morrissey e Johnny Marr.

*”This Charming Man” apareceu apenas nas versões americana do disco e no K7 da versão inglesa no ano de seu lançamento. Apenas em 1993, no primeiro relançamento, foi colocada no álbum no Reino Unido e faz parte de todos os relançamentos até hoje. É uma das melhores músicas lançadas pela banda.

Gravadora: Rough Trade
Produção: John Porter e The Smiths
Tempo: 40min

Morrissey: vocais
Johnny Marr: guitarra e gaita
Andy Rourke: baixo
Mike Joyce: bateria

Convidados:

Paul Carrack: teclado em "Reel Around the Fountain" e "I Don't Owe You Anything"
Annalisa Jablonska: vocais em "Pretty Girls Make Graves" e "Suffer Little Children"




The Smiths


The Smiths foi uma banda de rock alternativo britânica formada em Manchester em 1982. A base principal do grupo era a parceria nas composições de Morrissey (vocal) e Johnny Marr (guitarra), a banda também incluía Andy Rourke (baixo) e Mike Joyce (bateria). Alguns críticos consideram como a banda de rock alternativo mais importante a surgir no cenário britânico de música independente dos anos 80. Em dezembro de 1982 o grupo procurava uma gravadora e tentou impressionar a EMI enviando uma demo tape, porém não houve sucesso. Por fim, o grupo assina com a gravadora independente Rough Trade Records, sendo que desta parceria foram lançados quatro álbuns de estúdio e compilações diversas, bem como alguns singles. A banda se separou em 1987 em meio a um crescente número de desentendimentos entre Morrissey e Marr. Entre seus principais sucessos destacam-se as canções The Boy With The Thorn In His Side, How Soon Is Now, This Charming Man, Ask, Heaven Knows I'm Miserable Now, Bigmouth Strikes Again, Panic e There Is a Light That Never Goes Out.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

1989 - No Control

Para aproveitar o verdadeiro rebuliço que “Suffer” (1988) causou na cena Punk Rock americana e mundial, o Bad Religion não perdeu tempo! Logo após o fim da sua primeira tour europeia, a banda entrou novamente no estúdio do guitarrista Mr. Brett, o Westbeach Recorders, em Los Angeles, para registrar suas novas músicas. Era junho de 1989 e o velho ditado, “em time que está ganhando, não se mexe!”, tão comum no futebol (e odiado no mundo corporativo), cai como uma luva para descrever esse momento que o Bad Religion vivia e o fruto proveniente dele: “No Control”, o 4º full length de sua carreira, uma verdadeira pedrada hardcore, com menos de meia hora de músicas curtas, rápidas, simples e melódicas até o osso! Propositalmente ou não, assim como em “Suffer”, a banda conseguiu a façanha de cravar novamente a marca de 15 faixas em 26 minutos com “No Control”. E não foi apenas nos números e nos métodos de gravação que o BR repetiu a mesma fórmula. 

Musicalmente, além de manter a formação, com os compositores Greg Graffin (v) e Mr. Brett, mais Jay Bentley (b), Greg Hetson (g) e Pete Finestone (d), o grupo mostrou uma incrível consistência, fazendo o disco novo soar não só como uma continuação natural de seu antecessor, mas como se fosse um verdadeiro “lado B”, ou um “disco 2” de um álbum duplo. Claro que isso pode soar como “repetição”, mas não foi o caso aqui... Tudo que se poderia esperar do “Bad Religion-pós-Suffer” está em “No Control”: as músicas curtíssimas, a simplicidade, os vocais melódicos, os vários coros de backing vocal com 3 vozes em harmonia, a energia infinita e aquele inconfundível, inexplicável-porém-perceptível “ar californiano”. 

Talvez a única diferença, que fez justamente o disco não soar como uma repetição, mas sim uma continuação de “Suffer”, foi a alta velocidade da maioria das músicas, o quê, futuramente, acabou fazendo o disco ser considerado o mais “hardcore” da carreira do Bad Religion. “No Control” foi lançado pela Epitaph Records, do guitarrista Brett, e veio ao mundo no dia 2 de novembro de 1989. Aqui no Brasil, a edição oficial saiu só em 1998, via Paradoxx Music. Inicialmente, o disco não vendeu tão bem como “Suffer”, mas sempre figurou entre os mais vendidos do catálogo da banda, sendo que em 1992, havia atingido a marca de 80 mil cópias vendidas, atrás dos discos “Generator” (1992), com 85 mil, “Suffer”, com 88 mil, e “Against The Grain” (1990), com 90 mil. 

A arte da capa, uma colagem de fotos dos membros da banda, com cores muito gritantes e oitentistas, e sem a fonte e logo do BR, foi feita pelo artista Norman Moore, que trabalhou em outras capas da banda em lançamentos futuros. De acordo com entrevistas, as músicas de “No Control” foram compostas durante a tour de “Suffer” e seus intervalos entre 88 e 89, com Brett assinando oito faixas e Graffin as outras sete. Brett chegou a afirmar que, devido ao ótimo momento que a banda vivia com “Suffer”, sua criatividade estava em alta: “Estava trabalhando como engenheiro de som em discos para minha gravadora e, em um intervalo para um café era capaz de escrever uma música inteira em menos de meia hora”, revelou. 

Os assuntos nas letras mantiveram o tom altamente crítico e os alvos de “Suffer”, mas as “intervenções acadêmicas” nas músicas compostas por Greg Graffin, que havia acabado seu mestrado e estava começando seu doutorado na “facul”, tomaram proporções bem maiores em “No Control”, com o vocalista chegando ao ponto de citar e a colocar a fonte (!!!), ao usar as palavras do naturalista escocês James Hutton, na letra da faixa-título, com o verso “no vestige of a beginning, no prospect of an end.” Sua bela voz, agora “adulta”, uma marca praticamente impossível de desassociar quando se pensa no Bad Religion, também acabou sendo o destaque individual do álbum em comparação à performance de seus colegas instrumentistas. 

O lado A do vinil, que é quase inteiro composto por Mr. Brett, possui justamente as duas melhores músicas de Greg Graffin: “Change of Ideas” e a faixa-título. Na primeira, o cantor conseguiu a façanha de condensar uma música com dois versos e um refrão matador em apenas 54 segundos – nada mais Punk Rock – registrando um hardcore rápido e incrivelmente bem “amarrado” melodicamente falando. Já “No Control”, a música, se tornou um clássico absoluto do Bad Religion, sendo inclusive coverizada este ano pelo Offspring numa versão lindona, em comemoração a uma tour conjunta entre as duas bandas. A letra, mais um “tapa-na-cara” do vocalista, fala sobre como não adianta você ser o “pica-do-rolê”, já que um dia tudo acaba sem você ter o controle e, justamente isso te faz igual a todos os homens. 

Ainda no lado A, temos a simples e certeira, mas não menos clássica e fantástica, “I Want to Conquer the World”, composta por Brett. Sua letra, apesar de divertida ao falar sobre o quê ele faria se fosse “o dono do mundo”, também pode ser encarada de maneira pessimista (algo bem comum no Punk Rock), como um grito de desespero ou agonia, como se a única solução para “consertar” o planeta fosse ele mesmo assumindo o poder. Em entrevistas, o músico simplesmente alegou que trata-se apenas de uma música “antiguerra”, mas os versos acabaram por entregar muito mais que isso. Outro “clássico” presente em “No Control”, mas no lado B, é a melodiosa “You”, conhecidíssima da galera que jogava “Tony Hawk Pro Skater 2” no Playstation, no começo dos anos 2000. Composta na famosa sequência de acordes “Lá menor-Fá-Dó-Sol”, “You”, que segundo Brett, era uma “música de amor ao contrário” composta para uma ex-namorada, tem até uma citação de “We Can Work It Out”, dos Beatles: “there's no time for fussing and fighting, my friend.” 

Além dos quatro clássicos, “No Control” ainda traz uma pá de canções legais, como a cadenciada “Sanity”, com sua letra bem poética (para os padrões de uma banda punk); a “desenfreada” “Sometime It Feels Like”, com suas cacofonias mostrando as primeiras experiências de Mr. Brett ao compor “músicas abstratas” – ele incrivelmente encaixa partes de “antimúsica” no meio da melodia do som, fazendo a música literalmente “falar”; as hardcores “Big Bang” e “Progress” com seus coros de backing vocals subindo os tons; e as interessantes “Henchman”, que começa no ritmo “Punk 77” e descamba pra um “HC insano” no final, e “Billy”, com sua fortíssima letra autobiográfica feita por Brett sobre seu vício em crack (ele viria a ficar 100% sóbrio somente em 1999, após muitas idas e vindas no seu "inferno")! Nunca li nada à respeito, mas essa música pode muito bem ser uma continuação da faixa "Billy Gnosis", lançada no fraquíssimo "Into The Unknown", de 1983. 

“No Control”, que certamente está em os favoritos de qualquer fã do Bad Religion que se preze, não só manteve o patamar atingido pela banda no disco anterior, como também provou que eles ainda eram capazes de soar bem hardcore (como em seu início de carreira), mesmo fazendo músicas calcadas em melodias e em escalas musicais. E, como ainda havia caminhos para explorar nessa fórmula de fazer Punk Rock criada por eles mesmos, mantiveram o mote “em time que está ganhando, não se mexe!”.


domingo, 3 de dezembro de 2017

1988 - Suffer

Sabe aquele som Punk bem cruzão, agressivo, cortante, com 3 ou 4 acordes no máximo, e com melodias bem primárias, ou até mesmo, sem nenhuma melodia? Até “Suffer” ser lançado em 8 de setembro de 1988 pela Epitaph Records, gravadora do próprio guitarrista da banda, Mr. Brett (sim, do-it-yourself!), o Punk Rock de verdade (o contestador, e não aquele com “letras-pra-pegar-mininha”) não era nada melódico, não tinha muitos acordes e estruturas musicais mais elaboradas e, muito menos, coros de backing vocals com harmonias em 3 vozes em tons diferentes. 

E essas são as principais características deste segundo full length do Bad Religion, acrescidas ainda de um inexplicável, porém perceptível, “ar californiano” que permeia todas as velozes 15 faixas do play, que juntas somam poucos, porém certeiros, 26 minutos, sendo a menor, “Pessimistic Lines”, com 1:07, e a maior, “What Can You Do” (o som do BR favorito de Tim Armstrong, do Rancid), com 2:44. A banda estava parada desde o fim de 1985 e só se reuniu novamente no meio de 1987 para compor “Suffer”. A formação contava com os compositores Greg Graffin (v) e Mr. Brett (g), seus asseclas do 1º disco Jay Bentley (b) e Pete Finestone (d), e o responsável pela “sobre-vida” da banda no meio da década de 80, Greg Hetson na outra guitarra. 

Eles levaram apenas 8 dias, em abril de 1988, para gravar e mixar o disco no estúdio Westbeach Recorders, também de propriedade do guitarrista Mr. Brett (mais do-it-yourself nessa história!), que foi o engenheiro de som na gravação (seu novo “emprego” pós largar o vício em crack), além de produzir a bolacha junto com o resto da banda. Entre os fatos curiosos da gravação, que foi vitoriosa em tirar um som bem limpo e audível, sabe-se que Jay Bentley gravou o baixo com um amplificador de guitarra Hiwatt SA212, método que acabou empregado em quase todos os discos do BR desde então. O impacto pelo novo jeito de fazer Punk Rock, ainda rápido, agressivo e com letras ainda mais contestadoras, porém cheio de melodias e harmonias vocais, foi tão grande que “Suffer” vendeu 3 mil cópias logo de cara no 1º ano, sendo que permaneceu como o campeão de vendas (no 1º ano) do selo Epitaph até 1994, quando foi desbancado pelo nada mais, nada menos clássico “Smash”, do The Offspring. 

No Brasil, “Suffer” só foi editado oficialmente em 1998, 10 anos após seu lançamento, em CD, pela gravadora Paradoxx Music. Blusão com o "garoto queimando" A icônica capa, desenhada pelo artista Jerry Mahoney, se tornou lendária ao trazer um típico adolescente no subúrbio americano, literalmente pegando fogo de raiva, ou “sofrendo”, fazendo alusão ao título do disco. O “garoto queimando”, mesmo não se tornando um “mascote” oficial do Bad Religion, acabou sendo muito utilizado em artes de camisetas e, principalmente, em tatuagens feitas por fãs. O guitarrista Mr. Brett disse, em entrevistas, que o conceito lírico de “Suffer” (tradução “sofrer”) vem do escritor Fyodor Dostoyevsky, em não encarar o sofrimento como uma coisa ruim, mas sim como um fator de onde o ser humano sai “purificado”. Já do lado da outra força criativa da banda, o vocalista e professor universitário Greg Graffin, as letras escritas por ele, além da contestação pura e direta, começaram a abordar assuntos acadêmicos e Ciência propriamente dita, temas que passaram a ser recorrentes no resto do catálogo da banda a partir de então, e que te obrigam a usar bastante um dicionário para entender algumas vezes (rs). 

Se historicamente “Suffer” foi um divisor de águas para a cena Punk nos EUA, musicalmente ele inventava, sem querer-querendo, um novo estilo, com músicas velozes, com pouco mais de 1 minuto de duração, compostas seguindo harmoniosamente as escalas das notas musicais (a sequência “dó-ré-mi” é bastante utilizada), cheias de melodias fáceis de cantar e assobiar, que agradavam não só os punks fãs de contestar o sistema, mas também um público mais jovem, incluindo uma boa parcela de skatistas e aficcionados em esportes radicais em geral. “You Are (The Government)” abre o play com os dois pés no peito, montada em uma estrutura que vai direto ao ponto, com verso-verso-refrão-fim abrupto em 1:21 de música, que te faz dar um repeat logo em seguida, pra ver se você entendeu direito que é realmente “só isso” que é necessário pra fazer musica cativante! 

O lado A do vinil também traz as empolgantes “Give You Nothing”, com sua levada “surf” e letra brutalmente humilde (“Então você tem um lugar que pode chamar todo seu, mas isso se tornou em um hábito de carregar uma cruz.”), e a cadenciada “Best For You”, com seu ritmo “punk 77” perfeito pra pogar e a participação das guitarristas do L7 (outra banda da gravadora Epitaph na época) Donita Sparks e Suzi Gardner no solo do final. A pessimista faixa-título, tocada nos shows até os dias de hoje, abre o lado B com suas cacofonias, preparando terreno para a mais hardcore de todas, “Delirium of Disorder”, o único som que lembra o estilo de Punk Rock mais sujão praticado pelo Bad Religion no início da carreira. “Part II (The Numbers Game)”, que contou com a participação de outra integrante do L7, Jennifer Finch, nos backing vocals, vem na sequência e tem uma das letras mais surpreendentes. 

Quando li pela 1ª vez achava que era uma letra facista e arrogante no meu entendimento de Inglês aos 16 anos de idade. Só alguns anos depois saquei a brilhante ironia por trás da letra, que é cantada como se fosse um hino ou um discurso de um líder político americano, que exalta a política imperialista de dominação e opressão de seu país de forma bem irônica, assim como o BR fez anos mais tarde em seu maior hit, “American Jesus”, que só saiu em 1993, no disco “Recipe For Hate”. "Suffer" ainda conta com o hino hardcore “Do What You Want” e sua letra “totalmente foda-se” (“Faça o que quiser, mas não faça perto de mim (...) Faça o que for preciso, faça o que puder, quebre todas as regras e vá pro inferno com o Superman, morrendo como um herói!”), talvez o maior sucesso do play e uma das favoritas de todos os tempos pelos fãs da banda. 

Depois que “Suffer” saiu, a gravadora Epitaph virou referência nesse estilo de Punk Rock com cheiro de California e um monte de melodia, lançando os primeiros álbuns de bandas que mais tarde se tornaram seminais, como The Offspring, Pennywise, Rancid, Down By Law, entre outras. Uma nova cena havia sido inagurada e o Bad Religion era o ponta-de-lança, referência máster, tanto musicalmente, como mercadologicamente, com o guitarrista Brett capitaneando a Epitaph, lançando, produzindo e, consequentemente, profissionalizando cada vez mais bandas do estilo. Com o sucesso de "Suffer" no underground, a carreira do Bad Religion, que estava estagnada apenas aos EUA até então, virou internacional, com a banda fazendo sua primeira tour na Europa em 1989. E a vibe pelo lançamento de algo tão influente foi tão forte, que eles logo entrariam em estúdio novamente para registrar, nos mesmos moldes, o sucessor, o não menos clássico “No Control”, que será comentado no próximo post.


sexta-feira, 17 de novembro de 2017

1984 - Back To The Known (EP)

Bom, pra dar continuidade na discografia do Bad Religion, a próxima bolacha que irei postar pra vocês é o EP lindão de 1984-85, intitulado de "Back To The Known". Então, o Bad Religion precisou apenas de 5 músicas, dividas em pouco mais de 10 minutos, pra provar pra si mesmo que o seu negócio era (e ainda é, e sempre será) o Punk Rock! Originalmente com músicas prensadas apenas no lado B do vinil de 12 polegadas (pra dar mais impacto no ouvinte), o EP “Back to the Known” trouxe um pouco de esperança e vida ao desgastado cenário punk americano de 1985, que na época estava bem divido com brigas e tumultos dividindo os shows.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

1983 - Into The Unknown

Pra aproveitar esse feriado morgadaço hahaha trago pra vocês esse disco que é a cara desse feriado triste rsrs!!! Com vocês Into The Unknown de 1983, que na minha opinião com certeza não é um disco massa do Bad Religion, mas vale ressaltar que ainda se salvam 2 sons (na minha opinião claro rsrs), são os seguintes sons: chasing the wild goose & billy gnosis.


domingo, 12 de novembro de 2017

1982 - How Could Hell Be Any Worse?

Financiado por um empréstimo de mil dólares feito pelo pai do guitarrista Brett Gurewitz, “How Could Hell be Any Worse?” foi lançado em 19 de janeiro de 1982, quase um ano depois da estreia da banda com o EP homônimo também pela gravadora Epitaph Records. E, nesse um ano de “corre”, o Bad Religion, mesmo sem ainda não conseguir atingir o status de “lenda”, pelo menos mostrou que já sabia os caminhos que queria traçar musicalmente. 

Punk até a alma, a banda manteve o esquema DIY (do-it-yourself) de produção e, como era de se esperar de uma 2ª experiência em estúdio, não houve grandes evoluções em termos de timbres em “HCHBAW”, lembrando bastante o som que a banda tirou no EP de estreia. Mesmo assim, Greg Graffin e Brett Gurewitz mostraram alguma evolução na composição e a algumas músicas contidas nesse play podem ser consideradas o “protótipo” do estilo “Punk Melódico”, que consagrou a banda no decorrer de sua carreira, como a rápida “Pity”, por exemplo. “How Could Hell Be Any Worse?” foi gravado no Track Record Studios, em North Hollywood, Califórnia (EUA), entre outubro e novembro de 1980 e janeiro de 1981. 

Na primeira sessão, a banda ainda contava com o baterista Jay Ziskrout, que gravou o 1º EP, mas no segundo período de gravação, ele já havia sido substituído por Pete Finestone, batera que permaneceu no Bad Religion até 1991. Ziskrout havia deixado 8 faixas gravadas, sendo que Pete acabou registrando apenas 6, das 14 que compõem o disco, que também contou com a participação do guitarrista Greg Hetson, fazendo um solo como convidado na música “Part III”. Na época, Hetson integrava o lendário Circle Jerks, mas, dizem as lendas, que após gravar sua participação no disco, ele nunca mais saiu do Bad Religion (até 2013)! 

Para surpresa da banda, o trabalho vendeu cerca de 10 mil cópias logo no primeiro ano e faixas como “We’re Only Gonna Die” e “Fuck Armageddon... This is Hell” se tornaram os primeiros “clássicos” da carreira dos californianos. “We’re Only Gonna Die”, inclusive, com sua letra sucinta de apenas 4 versos e um “tapão na cara”, foi coverizada mais tarde pelos nova-iorquinos do “Hardcore Pula-Pula” do Biohazard, no disco “Urban Discipline”, de 1992. Já a “Fuck Armageddon...” nunca mais saiu do set list dos shows do grupo, com seu riff cortante e sua paradinha mortal no meio! A composição continuava dividida entre o vocalista Greg Graffin e o guitarrista Mr. Brett, mas o baixista Jay Bentley também contribuiu com 2 músicas bem marcantes: “Part III”, com seu riff de baixo e seus vários solos de guitarra espalhados pela música (um contra-ponto na cultura Punk), e o “discurso-musicalizado” “Voice of God is Government”. Finalizando....Rápido, cru, e direto sem frescuras.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

1981 - Bad Religion EP

O que esperar de moleques de 16 e 18 anos tocando Punk Rock numa garagem fedida de suor? Música cheia de energia, cheia de furor, cheia de rebeldia sem causa e... Ops! Sem causa, não! Se tem um campo em que o Bad Religion pode se orgulhar de se destacar é por fazer letras contundentes e absolutamente conscientes do mundo à sua volta! Na idade em que estavam e do meio em que vieram, eles podiam tranquilamente fazer as 6 músicas de seu EP de estreia sobre como xavecar a líder de torcida bonitinha, ou sobre como o sol da Califórnia brilha bonito no corpo da universitária, mas eles, punks que eram, escolheram falar de temas como “religião”, “política”, “governantes inúteis”, “stress”, “suicídio por descrença na sociedade” e “guerras”, e de uma maneira que deixaria seus pais chocados com tamanha noção da realidade cruel em que vivem e pela maneira que a descrevem nas letras. O lado A, abre com a homônima “BadReligion”, que ataca as religiões, as comparando com uma fábrica, onde tudo funciona precisamente para manter os funcionários/fieis alienados e na linha. O riff de abertura de Brett Gurewitz é marcante, mas a música se perde numa confusão cromática que desenvolve até chegar no refrão e fica estranha. Nessa época, a banda ainda não havia desenvolvido sua capacidade de passear nas melodias pops e, além disso, o vocalista Greg Graffin ainda estava com sua “voz de adolescente de 16 anos em desenvolvimento” e berrava de maneira bem esganiçada...




O play segue com o hardcore “Politics”, com a banda atacando os governos e chamando o presidente de “idiota” (jerk). Depois o “alvo” da fúria dos jovens da “má religião” é o stress, com a crítica e alegrinha “Sensory Overload”, onde reclamam por estarem com seus sentidos sobrecarregados de tanta estupidez da sociedade. O lado B abre com a mira apontada novamente para os políticos, com a pogante “Slaves”, marcada pelo baixo de Jay Bentley e pela batida mais “ramônica” do então batera, Jay Ziskrout. Depois o clima fica bem pesado com a tensa e lenta “Drastic Actions”, onde Graffin relata uma cruel realidade com um crescente número de suicídios por descrença na sociedade. Pra fechar, eles pisam novamente no acelerador, com a hardcore de 54 segundos “World War III”, onde já previam, em 1981, que o imperialistmo americano os levaria a mais guerras sem sentido. Assim como ficou costumeiro no decorrer da discografia do Bad Religion, a composição das faixas é divida entre Graffin e Mr. Brett. Apesar de que neste EP as músicas pareçam muito entre si, o estilo de composição de Graffin é mais “nerd” e “preciso”, o que contrasta legal com a “arte musical abstrata” que Brett costuma arriscar, enriquecendo bastante o catálogo da banda. Como era o primeiro EP, e por ter sido gravado no Studio 9, um pequeno estúdio de demos alocado no andar de cima de uma farmácia, o “Bad Religion - EP” é aconselhado apenas àqueles já acostumados com aquele Punk Rock sujão, que beira o hardcore, sem muito peso, firula ou produção, onde o que vale mesmo é a mensagem que está sendo passada. Esse ainda não é o Bad Religion fazendo o som pelo qual ele ficou conhecido e se tornou referência. Era apenas a estreia de mais uma banda de Punk Rock tocando bem rápido, no fervilhante cenário hardcore americano do início dos Anos 80. De qualquer modo, a sementinha plantada nesse cenário germinou muito bem no futuro, como iremos ver...

FONTE: http://discoadisco.blogspot.com.br/2014/09/bad-religion-discografia.html

BAD RELIGION

Formado em 1979, em Los Angeles, Califórnia, pelo vocalista Greg Graffin e pelo guitarrista Brett Gurewitz, o Bad Religion foi uma das bandas mais influentes (senão a mais influente) do que pode ser chamado de “2º revival do Punk Rock”, quando o Green Day e o The Offspring estouraram nas paradas americanas em 1994, bem naquele momento em que a indústria musical e os fãs de músicas rápida e energética clamavam por algo para lavar a alma após a trágica morte de Kurt Cobain, que, por consequência, matou (comercialmente) o que era chamado de “Grunge”... Poucos sabem, mas a banda que fomentou a maior parte dessa cena de onde vieram as bandas de Billie Joe e Dexter Holland foi o Bad Religion.

FONTE


domingo, 29 de outubro de 2017

2012 - Clockwork Angels

E a espera foi grande, depois de longos cinco anos desde o ótimo Snakes & Arrows, o Rush chega com "Clockwork Angels", o seu 20º álbum de estúdio mostrando que quanto mais velha a banda fica, ela tende a ficar melhor e melhor. É impressionante como uma banda que tem quase de 40 anos de carreira e tantos álbuns ótimos e diversos - sempre com uma característica única - na sua discografia, consegue nos entregar mais um excelente álbum; intenso e poderoso o suficiente para figurar na prateleira de grandes álbuns de sua carreira. Como tradição do Rush, "Clockwork Angels" é um excelente álbum conceitual onde as músicas são inspiradas em definições steampunk de Júlio Verne e H.G. Wells (para quem não sabe, o termo "steampunk" é um sub-gênero da ficção científica onde trata-se de obras ambientadas no passado). 

"Clockwork Angels" conta a história de um jovem homem por um mundo dito "liberal e colorido" por cidades perdidas, piratas, anarquistas, um carnaval exótico e um observador que impõe precisão em cada aspecto da vida, representada pela capa do álbum repleta de simbolismo (interessante não?!). Capa aliás que nos mostra um relógio onde cada hora mostra um símbolo alquímico, e que está diretamente relacionado com as 12 canções. O relógio marca 21 horas e 12 minutos, uma alusão ao quarto álbum do grupo, 2112. Neil Peart assina todo esse material excelente, e para a nossa felicidade, que em breve virará um romance pelas mãos do escritor de ficção científica Kevin J. Anderson. "Clockwork Angels" continua o caminho percorrido desde "Vapor Trails" de 2002, onde o Rush vem "experimentando" o lado mais rock n' roll da coisa. 

Naquele esquema puro de baixo, bateria e guitarra e aproveitando as possibilidades tecnológicas e de produção que não tínhamos a décadas atrás, o Rush consegue mais uma vez consegue soar moderno e pesado, mas nunca datado e comum aos ouvidos de quem escuta. É sobretudo um álbum "rockeiro". Faixas como a direta "Caravan", a pesadíssima e de refrão grudento BU2B, e o single "Headlong Flight" dão esse tom de forma competente e contagiante. Mas o Rush não perde em nenhum momento suas viagens progressivas e nem sua pegada mais pop, faixas como a "Halo Effect", e a "The Garden" dão todo esse tom. Temos aqui inúmeras características únicas e marcantes que ao longo do tempo nos mostraram uma banda genial, seja pela guitarra cortante e cheia de riffs criativos de Alex Lifeson como na "Wish Them Well" e na soco na cara "Carnies", o baixo funkeado e a voz inconfundível do tiozinho estiloso Geddy Lee presentes fortemente na setentista "Seven Cities Of Gold", e a bateria precisa e intrincada do mestre Neil Peart como na "The Anarchist". 

Por todas as suas 12 faixas "Clockwork Angels" se mantém vigoroso, e se torna um dos álbuns mais fortes a ser candidato ao top 5 do fim do mundo de 2012. Pra quem duvidava de uma banda de quase 40 anos estrada, está aí a prova de como não pode se duvidar. Quem curte um bom rock n' roll tem que ter essa obra na sua cabeceira!

FONTE: https://descafeinadoblog.blogspot.com.br

sábado, 21 de outubro de 2017

2007 - Snakes & Arrows

Snakes & Arrows é um disco tempestuoso, que traz o reflexo do clima social e político atual confrontando crenças religiosas e guerras, abordando também as ideias de sorte e destino, questionando a noção de fé e estendendo diferentes percepções num turbilhão de incertezas, mas conseguindo ainda assim transmitir convicção e esperança nesse tempo tão conturbado. 

Nada é verdadeiramente, corretamente ou totalmente representado por aquilo que é percebido quando consideramos o primeiro olhar e as aparências. Percepções iniciais podem ser - e muitas vezes são - enganadoras, impregnadas pelos valores que desejamos e que obscurecem verdades que são varridas para algum canto da alma. O mundo não é o mesmo idealizado em filmes, música e TVs, mas um lugar confuso, estranho e onde as coisas não são como aparentam ser. Contamos histórias e cantamos canções para tentar encapsular o caminho que desejamos, acreditamos em ideais de justiça que prevalecem e nos confortamos nisso - mas a realidade é que não há nada tão puro.

Assim todo o núcleo lírico de Snakes & Arrows, não devem ser vistos como ataques diretos à variadas filosofias e religiões, mas como um conjunto de percepções pessoais de um livre pensador que exemplifica sua maneira de compreender a real afirmação do ser humano. Somos todos imperfeitos, todos temos medos, mas também somos capazes de nos esforçarmos para fazermos o melhor em nossas circunstâncias. Quando sabemos que há uma má notícia se aproximando (e iremos lidar com isso o tempo todo), precisamos olhar para o que temos de bom primeiro, a fim de nos fortalecemos para o enfrentamento. 

Como um todo, Snakes & Arrows representa perfeitamente como o Rush continua a ser relevante, mesmo após décadas de carreira. Seus arranjos e dinâmica das canções combinados à pensamentos provocantes e tons líricos um tanto quanto controversos criam um álbum atmosférico que se apoia no passado em vários momentos, mas que forja o caminho da banda para o futuro.


domingo, 15 de outubro de 2017

2004 - Feedback

O quarto no subúrbio de Toronto estava mal iluminado com um lustre de pérolas, lâmpadas de lava e velas. Tapetes estampados, guitarras, amplificadores e tambores espalhados pelo chão. O guitarrista, o baixista e o baterista trancados numa jam blueseira rápida através de uma peça acústica e relaxante, um hino do rock tradicional. Enquanto a música ia finalizando, o ar se enchia de sons de retorno, guitarra de doze cordas ecoante e cítara elétrica. 

As lâmpadas de lava vibravam sobre os amplificadores de reforço. Tudo era ... muito ... bonito ... Abril de 2004, mas Geddy, Alex e eu estávamos canalizando um retorno a 1966 e 1967, quando éramos iniciantes de treze e catorze anos de idade. Achamos que seria um símbolo apropriado para comemorar nossos 30 anos juntos voltar às nossas raízes para prestarmos homenagens àqueles com os quais tínhamos aprendido e fomos inspirados. Achamos que poderíamos gravar algumas das músicas que costumávamos ouvir, as quais aprendemos meticulosamente os acordes, notas e bateria para até mesmo tocarmos nas nossas primeiras bandas. 

Ironicamente, ouvi muitas dessas canções pela primeira vez como "covers", interpretados por bandas locais nos arredores de St. Catharines, Ontário, em meados dos anos sessenta. The Who e os Yardbirds me foram apresentados dessa maneira. Poucos anos mais tarde, minha primeira banda, Mumblin' Sumpthin' (nome que veio de uma história em quadrinhos chamada "L'il Abner", algo que sempre tenho que explicar) tocou "Crossroads" do cream e a versão do Blue Cheer para "Summertime Blues". 

Ao mesmo tempo, do outro lado do subúrbio de Toronto, Alex tocava "For What it's Worth" em sua primeira banda, The Projection, e mais tarde, com Geddy, tocaram também "Mr. Soul", "Shapes of Things" e "Crossroads" nas primeiras versões do Rush e em outras bandas chamadas Dusty Coconuts, Waterlogged Gorilla Fingers, Wild Woodpecker Revue e Aquiline Dimension of the Mind (dependendo do dia). 

As outras faixas nesta coleção são músicas que gostávamos da época e que pensávamos que poderíamos "cobrí-las" de forma eficaz (ou seja, sem muitos backing vocals), nos divertirmos um pouco com elas. A música celebra bons tempos em nossas vidas, e tivemos bons momentos celebrando-as. - Neil Peart.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

2002 - Vapor Trails

Vapor Trails, 17º álbum de estúdio gravado pelo Rush e o primeiro com faixas inéditas após um hiato de quase seis anos. Com o anterior Different Stages, coletânea ao vivo de 1998, o trio fechava de forma incerta mais um capítulo da sua história, envolvido por delicados impasses emocionais provenientes dos trágicos acontecimentos ocorridos na vida pessoal de Neil Peart.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

1996 - Test For Echo

Com "Test For Echo", o Rush consegue alcançar novamente a incrível arte de criar obras extremamente complexas que soam com simplicidade e acessibilidade, munidas da habilidade de conversar naturalmente com a essência do ser humano que, mesmo tão variada e complexa, ainda assim exprime peculiaridades comuns. Assim, "Test For Echo" é o velho Rush conhecendo o novo Rush: a complexidade do progressivo e a urgência do hard rock aliadas a uma grande melodia, e a união desses componentes torna sua arte tão singular e admirada.


segunda-feira, 18 de setembro de 2017

1993 - Counterparts

Counterparts, décimo quinto álbum de estúdio do Rush e segundo trabalho produzido na década de 1990. Lançado em 19 de outubro de 1993, Counterparts pode ser definido como outro importante marco na extensa carreira dos canadenses, enfatizando finalmente a fórmula básica que fora gradualmente perseguida ao longo dos três discos anteriores. Temos aqui um Rush se despedindo definitivamente da intensa utilização de sintetizadores em suas canções, elementos que foram constantes na musicalidade de suas produções oitentistas. Audaz, direto, cru e muito vigoroso, Counterparts apresenta uma banda revigorada e em grande forma, que se reinventa retomando elementos do passado clássico, porém com o vislumbre de um futuro que marcaria a exploração de novas fronteiras.


terça-feira, 12 de setembro de 2017

1991 - Roll The Bones

O Rush ingressa na década de 1990 com o Roll The Bones, os produtivos anos de 1980 passavam, e os canadenses continuavam caminhando com passos firmes na direção do seu já considerado retorno às raízes. Logicamente, não se tratava de uma volta aos marcantes moldes primordialmente progressivos dos primeiros anos, mas uma perseguição que buscava mais ênfase do básico bateria, baixo e guitarra. Como no anterior Presto (1989), os sintetizadores ainda aparecem, porém com destaque diminuto, ocupando apenas alguns detalhes que refletiam o gradual afastamento da fórmula utilizada sem restrições durante a maior parte do período anterior.


domingo, 20 de agosto de 2017

1989 - Presto

Na época do seu lançamento, o disco era classificado por alguns críticos como "o trabalho mais espontâneo e vívido desde Permanent Waves", de 1980. A banda buscava nesse momento balancear sua musicalidade notavelmente progressiva com a diversidade, trazendo no primeiro single um nítido aperfeiçoamento das investidas que foram marcantes nos álbuns anteriores, ressurgindo com energia renovada. "De certa forma, esse álbum foi uma verdadeira reação contra a tecnologia", reconhece Geddy. "Eu estava ficando doente e cansado de trabalhar com computadores e sintetizadores. Felizmente, foi o Rupert. Estávamos unidos em nossa rebelião, decidindo por uma abordagem mais orgânica. Fizemos um pacto sobre ficarmos longe de cordas, pianos e órgãos - afastados da tecnologia digital. No fim, não pudemos resistir em usá-la como cores". "Presto não traz uma mensagem temática", afirma o baterista. "Não há nenhum manifesto, embora existam muitos segmentos e uma forte motivação de olhar para a vida hoje, tentando agir dentro dela".

O nome Presto, derivado do italiano, pode ser sinônimo de "rápido", "imediatamente", "depressa" ou "prontamente" em várias línguas, também se referindo ao andamento dito "extremamente rápido" na música erudita. Além disso, o termo é utilizado por alguns mágicos como algo próximo à palavra mística abracadabra - uma idealização de encantamento em números ilusionistas. Assim, podemos entendê-la no contexto do álbum como o núcleo primordial dos seus vários assuntos tratados, conforme as ilusões, reações e sensações que experimentamos individualmente. Metaforicamente, essas emoções não surgiriam como uma magia elaborada, sobre a qual é necessário tempo, estudo, concentração ou até mesmo uma reunião de ingredientes. Elas aparecem de imediato, bastando apenas estímulos externos específicos para que aflorem. Curiosamente, a palavra quase foi utilizada pelo Rush em um trabalho anterior. 

De acordo com Geddy Lee, Presto seria o título do álbum ao vivo mais recente até então, A Show Of Hands. Mesmo após o lançamento em 1988, o termo ainda continuava entre eles, com a banda decidindo, por fim, nomear dessa forma seu novo trabalho de estúdio. Ao mesmo tempo, Neil começou a elaborar uma canção de mesmo nome. "O título 'Presto' esteve muito perto de ser utilizado para o álbum ao vivo", afirma Geddy. "Decidimos por 'A Show of Hands', mas o outro continuou conosco, pois ainda gostávamos muito dele. Assim, foi sugerido para esse novo disco e, ao mesmo tempo, Neil estava pensando em uma música com o mesmo título. Esse título, portanto, veio bem antes da música".

domingo, 13 de agosto de 2017

1987 - Hold Your Fire

Hold Your Fire não é um álbum conceitual típico, embora envolva temas centrais como tempo, natureza, instinto e temperamento. O Rush expõe novamente sua incrível capacidade de ir além da música da época, tomando emprestados ingredientes de tendências em curso e transformando-os em algo mais intelectual, complexo e emocionante. "Estamos abertos ao que está acontecendo musicalmente, e geralmente tomamos essas influências encontrando uma maneira de trabalhá-las em nossa música", explica Peart. "Por outro lado, não somos esnobes. Gosto de dançar, e músicas para dançar de boa qualidade não me ofendem".


sábado, 5 de agosto de 2017

1985 - Power Windows

A melhor maneira de descrever esse trabalho magnífico, é a sua capacidade essencial de provocar sensações hipnóticas nos ouvintes, brilhando a proposta dos canadenses em tentar novas explorações. Neil Peart, a partir de suas linhas percussivas constituídas por padrões exímios e incomuns, guia intensamente os sintetizadores atmosféricos e as melódicas linhas de baixo de Geddy Lee, além das tocantes guitarras texturais de Alex Lifeson exploradas em dedilhados brilhantes. Por fim, os vocais nos causam um grande impacto imaginativo, refletindo todo o cenário de introspecção proposto.


1984 - Grace Under Pressure

Assim como Permanent Waves (1980), Moving Pictures (1981) e Signals (1982), Grace Under Pressure foi gravado no famoso Le Studio em Quebec, Canadá. Vários eventos noticiados no jornal Toronto Globe & Mail inspiraram grande parte das letras, particularmente "Distant Early Warning", "Red Lenses" e "Between The Wheels". A banda passava até quatorze horas no estúdio, aperfeiçoando seu som.

Trata-se de um dos álbuns mais sombrios da discografia da banda, diretamente influenciado pelas tensões crescentes da Guerra Fria e optando pelo tema central que observa como os seres humanos agem sob diferentes tipos de pressão. Em canções como "Between the Wheels" e "The Body Electric", Peart explora as pressões da vida como um todo. Em "Afterimage", ele descreve as sensações deixadas pela morte repentina de um amigo. "Red Sector A" é notável por suas alusões ao Holocausto e campos de concentração, inspirada nas lembranças de Geddy Lee em torno das histórias contadas por sua mãe quando libertada em Bergen-Belsen, onde foi mantida prisioneira. "Distant Early Warning" pode ser interpretada as pressões que envolve as possibilidades de um apocalipse nuclear. Já "The Enemy Within" surgia como a primeira parte das canções que compõem a série "Fear", ao lado de "Witch Hunt", de Moving Pictures, "The Weapon" de Signals e posteriormente "Freeze", de Vapor Trails (2002).

Musicalmente, Grace Under Pressure marca mais uma fase no desenvolvimento da sonoridade do Rush. A banda continua a fazer uso extensivo de sintetizadores, experimentando incorporar elementos do ska e do reggae em suas canções. As guitarras se mostram mais proeminentes que no trabalho anterior.